UNIERSIDADE DA REGIÃO DA CAMPANHA – URCAMP
CÂMPUS UNIVERSITÁRIO DE SÃO GABRIEL-RS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FUNDAMENTOS LINGÜÍSTICO-LITERÁRIO-PEDAGÓGICOS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO
DE LEITURA E ESCRITA
DISCIPLINA: ASPECTOS LINGÜÍSTICO-LITERARIO-IDEOLÓGICOS EM LIVROS DIDÁTICOS
PROFESSORA: TÂNIA MARIA MOREIRA
IMPORTÂNCIA DO LIVRO DIDÁTICO: EFICIÊNCIA E/OU INEFICIÊNCIA DESTE INSTRUMENTO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Autoras: BRUNA DE CÁSSIA PEREIRA DOS SANTOS, DAIANE VENTORINI POHLMANN MICHELOTTI, LIDIANE RAYMUNDO SILVEIRA
RENATA SOARES VARGAS e VANESSA VLAGRAND MARTINI
INTRODUÇÃO
Segundo Lajolo (1996), o livro didático assume certa importância dentro da prática de ensino brasileira nestes últimos anos, isso é notável, principalmente, em países como o Brasil, onde "a precaríssima situação educacional faz com que ele acabe determinando conteúdos e condicionando estratégias de ensino, pois, de forma decisiva, o que se ensina e como se ensina o que se ensina". Por esse motivo, surgiu a preocupação de fazer uma análise de como esse instrumento de ensino-aprendizagem vem sendo percebido e utilizado pelos professores de língua portuguesa.
Tal atenção se faz necessária uma vez que, através do uso contínuo e onipresente do livro didático, este material poderá ser visto como única fonte de ajuda ao professor ou, ainda, apresentar-se como substituto do docente, podendo comprometer a aprendizagem do aluno.
Busca-se, neste trabalho, fazer uma análise de como o livro didático vem sendo utilizado pelos professores de língua portuguesa em sala de aula. Para isso será traçada, primeiramente, sua trajetória histórica. Logo depois, faz-se necessário salientar pontos de vista de autores como Coracini (1999), Faria (1984), Lajolo (1996), Neves (1999), entre outros, sobre a importância do livro didático e o que levou esse instrumento a ser tão valorizado na prática de ação docente.
Através de algumas entrevistas realizadas com professores do município de São Gabriel e com base na abordagem dos autores citados acima propomos este texto, visando averiguar a importância devotada ao livro na prática dos professores, a fim de opinar sobre a eficiência e/ou ineficiência do instrumento no processo de ensino-aprendizagem.
DESENVOLVIMENTO
O livro didático, segundo Silva (1998), passa a ser utilizado com mais freqüência no Brasil na segunda metade da década de 60, com a assinatura do acordo MEC-USAID em 1966, época em que são editados em grande quantidade para atender a demanda de um novo contexto escolar em surgimento.
Em 1985, criou-se o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que vem ao longo dos anos se aperfeiçoando para atingir seu principal objetivo: educação de qualidade. Porém, somente no início dos anos 90 o MEC deu os primeiros passos para participar mais direta e sistematicamente das discussões sobre a qualidade do livro escolar. Foi uma iniciativa do Governo Federal que consistiu em uma ação mais ampla do MEC para avaliar o livro didático, apresentando um projeto pedagógico difundido por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos Guias do livro didático.
Até então, não havia a preocupação acerca do controle de qualidade dos livros, o que passou a vigorar a partir de 1993, quando o MEC criou uma comissão de especialistas encarregada de duas tarefas principais: avaliar a qualidade dos livros mais solicitados ao Ministério e estabelecer critérios gerais para a avaliação das novas aquisições.
Observando-se a trajetória histórica, onde fica evidenciada a importância que o livro didático assumiu com o passar dos anos, muitos autores dedicaram-se ao estudo deste, a fim de analisar a sua eficiência e/ou ineficiência.
Faria (1984), em seu livro Ideologia no Livro Didático, partindo da análise de como as crianças de escola pública, de origem operária na maioria, e da escola particular, originárias da classe média e alta, aprendem conceitos via livro didático, concluiu que este, em geral, perpassa ideologias culturalmente impostas e que se propagam de maneira a inculcar valores, preconceitos.
Uma pesquisa mais recente, realizada por Neves (2002), constata de maneira convergente a de Faria que o livro didático apresenta problemas como confusão de critérios, inadequação de nível, invenção de regras, sobrecarga de teorização, preocupação excessiva de definições, impropriedade de definições, artificialidade de exemplos, falsidade de noções, gratuidade de ilustrações, mau aproveitamento do texto, dentre outros.
Mas, segundo a mesma autora, mesmo os livros contendo diversos problemas não podemos caracterizá-lo como o único culpado. Segundo ela, o professor espera do livro didático saber o que não sabe; transfere responsabilidades que até então são suas, porque o livro didático não serve como professor e os alunos não aprendem por si só; substitui sua falta de conhecimento atribuindo ao autor do livro o saber e, com o livro didático, o professor economiza tempo no preparo das aulas, pois, na maioria dos casos, os professores são sobrecarregados de horas/aula.
Em conformidade, com Neves, Lajolo (1996) nos diz que
o caso é que não há livro que seja à prova de professor: o pior livro pode ficar bom na sala de um bom professor e o melhor livro desanda na sala de um mau professor. Pois o melhor livro, repita-se mais uma vez, é apenas um livro, instrumento auxiliar da aprendizagem.
Relevando a atuação do professor no processo de ensino-aprendizagem, a autora ainda salienta que "a solução definitiva passa, obrigatoriamente, por uma política educacional que invista através de medidas concretas na valorização da educação, o que se traduz na qualificação profissional do educador (salário, inclusive e sobretudo), problema no qual se inscrevem as faces mais desalentadoras da relação entre livros didáticos e qualidade de ensino".
Silva (1998), ao tecer comentários sobre o livro didático, considera que o mercado de venda de livros didáticos se favorece das condições precárias tanto das escolas como do professor, já que as escolas não possuem uma infra-estrutura adequada (ausência de bibliotecas e bibliotecárias, falta de salas ambientes para estudo e de autonomia financeira) e o professor, por sua vez, encontra-se em péssimas condições de trabalho, não tendo base financeira para uma formação continuada e investimentos culturais em sua profissão.
Para efetivamente averiguar o valor devotado ao livro didático, foram realizadas algumas entrevistas com professores da rede pública, estadual e municipal, e privada de São Gabriel, de forma a perceber até que ponto a realidade, no que diz respeito ao uso do livro didático, se relaciona com os pressupostos teóricos aqui já expostos.
As referidas entrevistas foram estruturadas em duas seções, sendo que a primeira deu ênfase ao motivo pelo qual o professor optou pelo curso de língua portuguesa. Das cinco entrevistas realizadas pode se dizer que três das respostas foram positivas, salientando que escolheram a língua portuguesa por afinidade com a disciplina, porém duas professoras de escola municipal salientaram que estão atuando como professores de língua portuguesa, por não se ter na escola professores com formação específica na área.
Na segunda parte das entrevistas foram feitos questionamentos específicos sobre o uso do livro didático na prática de ensino-aprendizagem. Segundo o relato dos professores, salienta-se que nas escolas públicas o livro é usado com mais freqüência em vistas da falta de recursos disponíveis. Na escola privada, existe o uso do livro didático de forma mais comedida, uma vez que, nestas instituições, o professor conta com outros materiais complementares para compor as suas aulas.
Ainda que com maior ou menor freqüência o uso do livro didático é uma ferramenta influente na prática de ensino nas escolas de São Gabriel, que, como revelado nas entrevistas, na companhia de elementos auxiliares como jornais e revistas, é elemento estruturador das aulas de língua portuguesa. Relevando-se ainda, quanto a isso, os aspectos positivos e negativos do uso livro didático, que vem, de certa forma, a concordar com algumas das colocações teóricas expostas anteriormente. As respostas giram em torno da questão de que no livro há tanto pontos positivos, pois serve como elemento norteador do ensino, ao mesmo tempo em que apresenta elementos negativos, como quando se torna o único instrumento utilizado pelo professor, pois este não dá conta das especificidades, heterogeneidade e peculiaridades de cada turma.
CONCLUSÃO
Diante dos pressupostos mencionados e pelas entrevistas aqui relatadas, observou-se que o livro didático pode mostrar-se como um instrumento eficiente, mas que revoga ao professor o seu papel de mediador insubstituível dentro do processo de ensino-aprendizagem. A sua ineficiência fica por conta do mau aproveitamento que o professor faz deste material, pois
a prática pedagógica do ensino de língua portuguesa, que deve ser entendida como prática política, será realmente libertadora quando extrapolar os limites da comunicação, do discurso pedagógico oficial e privilegiar a busca da informação, predispondo professores e alunos a uma luta constante contra a alienação. SENNA (2001) p. 55.
Para se chegar a esta prática libertadora o professor deve estar em constante busca de instrumentos e recursos que venham a enriquecer a sua prática pedagógica, de forma a contribuir para a formação de cidadãos críticos, conscientes e reflexivos.
CORACINI (1999) nos diz que "o livro didático já se encontra internalizado no professor... o professor continua no controle do conteúdo e da forma..." reafirmando que tornar o livro eficiente ou ineficiente vai depender da maneira como o professor utiliza-lo no processo de ensino-aprendizagem.
REFERÊNCIAS
CORACINI, Maria José. (Org.) Interpretação, autoria e legitimação do livro didático. São Paulo: Pontes, 1999.
FARIA, Ana Lúcia G. De. Ideologia no livro didático. São Paulo: Polêmicas do Nosso Tempo, 1984.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática história, teoria e análise, ensino. São Paulo: Unesp, 2002.
SENNA, Odenildo (2001): Palavra, poder e ensino da língua. Manaus: Valer, 2001.
http://www.inep.gov.br/download/cibec/1996/periodicos/em_aberto_69.doc
SILVA, E. T. da. Criticidade e leitura: ensaios. Campinas, SP : Mercado de Letras : Associação de Leitura do Brasil (ALB), 1998.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
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